O Silêncio que Mata
Traremos
aqui alguns nomes, porque não dá para vivermos mais tratando pessoas como
números, meras estatísticas, como se não fossem vidas, não carregassem
subjetividades, anseios, sonhos e desejos. São vidas humanas abruptamente interrompidas.
Alguns atos de violência transfóbica que aconteceram nos últimos dias em Pernambuco:
·
18/06/2021 - Kalyndra Selva, 26 anos,
encontrada morta dentro de casa no Ipsep, Recife – PE.
·
24/06/2021 - Roberta da Silva, 33 anos, queimada
viva no Cais de Santa Rita, Recife - PE, sobreviveu, teve o braço esquerdo e
parte do direito amputados.
·
05/07/2021 - Crismilly Pérola, 37 anos, morta a
tiros na Várzea - Recife – PE.
·
07/07/2021 - Fabiana da Silva Lucas, 30 anos,
assassinada a facadas, em Santa Cruz do Capibaribe – PE.
Hoje dia 09 de julho de 2021, Roberta
da Silva veio a óbito, depois de vários dias de dores e sofrimentos, onde teve
seus dois braços amputados.
Algumas perguntas precisam ser feitas:
Até quando isso vai continuar acontecendo? Até quando o Estado vai se mostrar
ineficiente na culpabilização dos atores destes horrendos crimes? E até quando
o Movimento Espírita Brasileiro vai ficar calado e omisso a todas estas violências?
Até quando o silêncio?
Fazemos
referência a Kardec na seguinte pergunta do O Livro dos Espíritos:
880. Qual é o primeiro de todos os direitos
naturais do homem? — O de viver. É
por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou
fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.
Nos baseando no que Kardec pergunta e
os Espíritos respondem, compreendemos que defender a vida não é apenas ser
contra o aborto, isso é ser em defesa da vida intrauterina, a vida humana
precisa e deve ser respeitada e protegida.
O
Movimento Espírita Brasileiro que diz não fazer política; para defender a vida
dos embriões se embrenha em jogadas e parcerias políticas, o que nos faz
entender que a proibição as “coisas que envolvem discussão política”, só são
efetivas quando falamos de negros, negras, mulheres e a comunidade LGBTQIAP+,
estas vidas, nesta perspectiva, não são passíveis de luta.
Hoje, mais do que nunca, precisamos
falar da nossa indignação, com toda esta violência, sermos solidários, fazermos
valer a nossa voz, e mostrar ao Estado validador da Necropolítica que dá valia
aos corpos que são dignos de serem protegidos e os que não são, os que merecem
viver ou não, e os que devem ter acesso à políticas públicas ou não, que não
nos calarão.
Por
que é tão importante que não nos calemos?
·
Simplesmente por sabermos, segundo dados da
ANTRA – Associação Nacional de Travestis
e Transexuais, que os corpos transexuais no Brasil possuem uma expectativa de
vida de 35 anos, enquanto a expectativa em nosso País é o dobro.
·
Por sabermos que existem em nossa sociedade,
ações coordenadas por religiosos de diversas matizes, que usam de
fundamentalismo e ferem a laicidade e a Democracia com pautas que são
diametralmente contrárias às pautas de Jesus de Nazaré que nos ensinou a amar
os diferentes e não a odiar. Estas práticas validam as violências e
impossibilitam a criação de políticas públicas que contemplem as pessoas
Transexuais, ficando a cargo do STF – Supremo Tribunal Federal – A manutenção e
garantia dos direitos da referida comunidade.
O
Espiritismo não é omisso às questões sociais, portanto não é insensível às pautas
dos Direitos Humanos, nós Espíritas precisamos sim sair da inércia e de alguma
maneira encamparmos postura concreta e atuante em favor das minorias sociais.
É
imperioso a proteção de todas as vidas e a não construção de um processo
seletivo que dite quais vidas merecem as nossas pautas de políticas públicas e
quais vidas não merecem as mesmas pautas, tendo os corpos Transexuais como
régua balizadora para a negação destas mesmas políticas
O
Espiritismo não se utiliza das suas bases estruturais para validar qualquer
tipo de desigualdade e injustiça social, desta forma, a reencarnação, a causa e
efeito, as provas e as expiações, não são apetrechos dos quais pessoas
desavisadas e sem conhecimento da Doutrina Espirita como fonte promotora de
renovação social, se utilizem para poderem estabelecer a partir destes
conceitos a banalização das dores, que são como nos diz Kardec na pergunta 806
do O Livro dos Espíritos,” responsabilidade dos homens” e não da divindade.
Assim,
nos solidarizamos a toda a comunidade Transexual que sofre todos os dias
perseguições de todas as ordens, que são aviltadas em seu direito de existir,
que são invisibilizadas por vários ambientes religiosos que negam as suas
Espiritualidades que são violentamente estabelecidas pelos seus corpos e não
são oferecidos acolhimentos, para que no ambiente de “amor”, as pessoas sejam
amadas pelo que são e não pelo que a norma espera que elas sejam.
Não
nos calaremos, não seremos omissos, estaremos sempre do lado dos oprimidos,
aprendemos o Espiritismo assim, como uma pedagogia que se inspira em Jesus de
Nazaré para estabelecer as relações com o mundo.
Vidas
Transexuais Importam!
Por
isso, nossa reverência a Dandara, Bianca Close, Kalyndra Selva, Crismilly
Pérola, Fabiana da Silva Lucas, Roberta da Silva...
Presente!
Presente! Presente! Presente! Presente! Presente!
Referências
Bibliográficas
KARDEC,
Allan 2007, p.p 272,291 ____________________________________
https://antrabrasil.org/