sábado, 10 de julho de 2021

Carta do Editor - 7º Editorial


 

O Silêncio que Mata

         Traremos aqui alguns nomes, porque não dá para vivermos mais tratando pessoas como números, meras estatísticas, como se não fossem vidas, não carregassem subjetividades, anseios, sonhos e desejos. São vidas humanas abruptamente interrompidas.

         Alguns atos de violência transfóbica que aconteceram nos últimos dias em Pernambuco:


·        18/06/2021 - Kalyndra Selva, 26 anos, encontrada morta dentro de casa no Ipsep, Recife – PE.

·        24/06/2021 - Roberta da Silva, 33 anos, queimada viva no Cais de Santa Rita, Recife - PE, sobreviveu, teve o braço esquerdo e parte do direito amputados.

·        05/07/2021 - Crismilly Pérola, 37 anos, morta a tiros na Várzea - Recife – PE.

·        07/07/2021 - Fabiana da Silva Lucas, 30 anos, assassinada a facadas, em Santa Cruz do Capibaribe – PE.

 

         Hoje dia 09 de julho de 2021, Roberta da Silva veio a óbito, depois de vários dias de dores e sofrimentos, onde teve seus dois braços amputados.

         Algumas perguntas precisam ser feitas: Até quando isso vai continuar acontecendo? Até quando o Estado vai se mostrar ineficiente na culpabilização dos atores destes horrendos crimes? E até quando o Movimento Espírita Brasileiro vai ficar calado e omisso a todas estas violências? Até quando o silêncio?

Fazemos referência a Kardec na seguinte pergunta do O Livro dos Espíritos:

 880. Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?     — O de viver. É por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.

         Nos baseando no que Kardec pergunta e os Espíritos respondem, compreendemos que defender a vida não é apenas ser contra o aborto, isso é ser em defesa da vida intrauterina, a vida humana precisa e deve ser respeitada e protegida.

O Movimento Espírita Brasileiro que diz não fazer política; para defender a vida dos embriões se embrenha em jogadas e parcerias políticas, o que nos faz entender que a proibição as “coisas que envolvem discussão política”, só são efetivas quando falamos de negros, negras, mulheres e a comunidade LGBTQIAP+, estas vidas, nesta perspectiva, não são passíveis de luta.

         Hoje, mais do que nunca, precisamos falar da nossa indignação, com toda esta violência, sermos solidários, fazermos valer a nossa voz, e mostrar ao Estado validador da Necropolítica que dá valia aos corpos que são dignos de serem protegidos e os que não são, os que merecem viver ou não, e os que devem ter acesso à políticas públicas ou não, que não nos calarão.

 

Por que é tão importante que não nos calemos?

·        Simplesmente por sabermos, segundo dados da ANTRA –  Associação Nacional de Travestis e Transexuais, que os corpos transexuais no Brasil possuem uma expectativa de vida de 35 anos, enquanto a expectativa em nosso País é o dobro.

 

·        Por sabermos que existem em nossa sociedade, ações coordenadas por religiosos de diversas matizes, que usam de fundamentalismo e ferem a laicidade e a Democracia com pautas que são diametralmente contrárias às pautas de Jesus de Nazaré que nos ensinou a amar os diferentes e não a odiar. Estas práticas validam as violências e impossibilitam a criação de políticas públicas que contemplem as pessoas Transexuais, ficando a cargo do STF – Supremo Tribunal Federal – A manutenção e garantia dos direitos da referida comunidade.

 

O Espiritismo não é omisso às questões sociais, portanto não é insensível às pautas dos Direitos Humanos, nós Espíritas precisamos sim sair da inércia e de alguma maneira encamparmos postura concreta e atuante em favor das minorias sociais.

É imperioso a proteção de todas as vidas e a não construção de um processo seletivo que dite quais vidas merecem as nossas pautas de políticas públicas e quais vidas não merecem as mesmas pautas, tendo os corpos Transexuais como régua balizadora para a negação destas mesmas políticas

O Espiritismo não se utiliza das suas bases estruturais para validar qualquer tipo de desigualdade e injustiça social, desta forma, a reencarnação, a causa e efeito, as provas e as expiações, não são apetrechos dos quais pessoas desavisadas e sem conhecimento da Doutrina Espirita como fonte promotora de renovação social, se utilizem para poderem estabelecer a partir destes conceitos a banalização das dores, que são como nos diz Kardec na pergunta 806 do O Livro dos Espíritos,” responsabilidade dos homens” e não da divindade.

Assim, nos solidarizamos a toda a comunidade Transexual que sofre todos os dias perseguições de todas as ordens, que são aviltadas em seu direito de existir, que são invisibilizadas por vários ambientes religiosos que negam as suas Espiritualidades que são violentamente estabelecidas pelos seus corpos e não são oferecidos acolhimentos, para que no ambiente de “amor”, as pessoas sejam amadas pelo que são e não pelo que a norma espera que elas sejam.

Não nos calaremos, não seremos omissos, estaremos sempre do lado dos oprimidos, aprendemos o Espiritismo assim, como uma pedagogia que se inspira em Jesus de Nazaré para estabelecer as relações com o mundo.

Vidas Transexuais Importam!

Por isso, nossa reverência a Dandara, Bianca Close, Kalyndra Selva, Crismilly Pérola, Fabiana da Silva Lucas, Roberta da Silva...

Presente! Presente! Presente! Presente! Presente! Presente!

        

Referências Bibliográficas

KARDEC, Allan 2007, p.p 272,291 ____________________________________

https://antrabrasil.org/




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