domingo, 11 de agosto de 2019

O ESPIRITISMO E OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES


O Espiritismo e os Novos Arranjos Familiares.
Texto do Eixo Espiritismo Família Gênero e Sexualidades
Produção de Alexandre Júnior e Rosangela Souza.

            A família é uma instituição social, que de acordo com Engels (1984), teve início com a origem da propriedade privada, quando os grupamentos humanos passaram de nômades para sedentários. Os grupos foram se acomodando em torno de outros menores até que se constituiu a família, com o contato mais próximo uns dos outros, se desenvolveram os laços afetivos. Foi também nesse momento que surgiu a desigualdade de gênero e o determinismo biológico dos corpos humanos, o qual determinou papéis, status sociais, os quais definiram o lugar que homens e mulheres passariam a ocupar na sociedade. Essa forma de organização social instituiu o modelo de família nuclear, cujo princípio seria o homem mantenedor e a mulher cuidadora do lar. Esse modelo foi estabelecido socialmente como padrão “normal, como modelo a ser seguido”, no entanto, com o desenvolvimento social, todo e qualquer outro modelo fora desse padrão seria considerado desviante.  
            Segundo dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio, a família pode ser vista como:

a) unidade de produção (valores de troca) e de reprodução (de indivíduos e valores de uso); b) unidade de reprodução e consumo; c) unidade de indivíduos com laços de consanguinidade; d) unidade de solidariedade, afeto e prazer; e) pessoas que dividem o mesmo teto e a mesma cozinha; f) local da relação dialética entre dominação e submissão; g) rede de parentesco (independente da moradia conjunta); h) espaço de socialização, reprodução ideológica e conflito; etc.


 Com o desenvolvimento da sociedade, os modelos de família foram se reorganizando de modo a atender a necessidade da sociedade vigente. Dentre os vários elementos constitutivos dos novos arranjos familiar encontra-se os fatores econômicos, sexuais, gênero, raça e classe social. O desenvolvimento do capitalismo foi um elemento divisor e definidor dos novos arranjos familiares, visto que, transformou os meios de produção bem como favoreceu a inserção da mulher no mercado de trabalho, criando desta maneira uma forma de organização social, que por seguinte gerou novos arranjos familiares, onde, a mulher passou a figurar como chefe de família. Com relação às mudanças sexuais, advindas da liberdade sexual, as famílias passaram a ser compostas por indivíduos do mesmo sexo, de mães e pais solteiros, pais divorciados entre outros.

Ainda segundo o PNAD, novos Arranjos Familiares:


A primeira grande mudança foi a redução do arranjo majoritário formado por casais (núcleo duplo) com filhos. Em números aproximados, esse tipo de família estava presente em cerca de dois terços (66%) dos domicílios, em 1980, mas caiu para algo próximo de 50% em 2010.Casais sem filhos  A segunda mudança – de maneira complementar à primeira – foi o aumento do arranjo formado apenas pelos casais sem filhos e sem outros parentes, que passou de 12% em 1980 para 15% em 2010. Arranjo monoparental feminino: A terceira alteração foi o aumento do arranjo monoparental feminino (núcleo simples, formado por mães com filhos), que passou de 11,5% em 1980 para 15,3% em 2010. Arranjo monoparental masculino: A quarta modificação foi também o aumento – ainda que de uma base menor – do arranjo monoparental masculino (núcleo simples, formado por homens com filhos), que passou de 0,8% em 1980 para 2,2% em 2010.
Mulheres morando sozinhas: A quinta transformação foi o crescimento do número de mulheres morando sozinhas, que passou de 2,8% em 1980 para 6,2% em 2010. Homens morando sozinhos: A sexta foi o crescimento do número de homens morando sozinhos, que passou de 3% em 1980 para 6,5% em 2010. E, finalmente, a sétima mudança aconteceu com a redução do percentual de famílias compostas e extensas (casais, filhos, parentes e agregados) que caiu de 4,8% para 2,2% no mesmo período.


O censo demográfico de 2010, conduzido pelo IBGE, abriu, pela primeira vez, a possibilidade dos casais do mesmo sexo, que moram no mesmo domicílio, serem considerados um núcleo familiar. Os dados indicaram a presença de cerca de 60 mil casais formados por pessoas do mesmo sexo e um deles se declarou como chefe. Mas, se os casais moram em casas diferentes ou nenhum deles se declarou como chefe, não foram identificados pelo censo. As mulheres são maioria nos arranjos homoafetivos, inclusive na homoparentalidade. Portanto, já existem crianças com dupla “maternidade” ou dupla “paternidade”. Também não foi levantada a informação sobre orientação sexual.
            Os incontáveis questionamentos em torno dos novos arranjos familiares levam a reflexão das famílias que não se enquadram no modelo de família nuclear e se baseiam nas relações biológicas e não biológicas.
O Espiritismo revelou a família como o local onde os Espíritos estão ligados por elos familiares, dado que muitas vezes eles são atraídos para tal ou qual família pela simpatia, ou pelos laços que anteriormente se estabeleceram. Não raro, esses elos são interrompidos pelo egoísmo, egocentrismo e vaidade humana. 
Independente dos novos arranjos familiares, o Espiritismo traz no livro dos Espíritos, na questão 205,
 Segundo certas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família, fazendo-as remontar as existências anteriores?  Ela as amplia ao invés de destruí-los. Baseando-se o parentesco em afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma mesma família são menos precários. A reencarnação amplia os deveres da fraternidade, pois no nosso vizinho ou no vosso criado pode encontrar-se um Espírito que foi do vosso sangue.

Ainda sobre o processo reencarnatório a pergunta o livro dos espíritos na questão 200 e 201, responde que os espíritos não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos, pois o espírito que o que animou o corpo de um homem pode animar um corpo de uma mulher e vice-versa.
Os novos arranjos familiares foram construídos a partir das transformações sociais, que refletiram nas diferentes formas que se costurou os papéis de homens e mulheres dentro da família. Um dos grandes embates da sociedade contemporânea se volta para questão da família formada por casais do mesmo sexo. Todavia, o Livro dos Espíritos traz que a experiência em família é decorrente das experiências reencarnatórias anteriores e das afinidades, e, que os espíritos não têm sexo, que este serve apenas para experiências, como pode ser tão discriminado esse arranjo familiar, já que a família serve a evolução espiritual e moral humana?  Estaríamos nós em evolução, se nos apegarmos a limitação moral de não aceitar as diferenças? Esse texto serve a reflexão em relação ao que traz a Doutrina Espírita e a nossa experiência, enquanto seres em evolução.

Referências
Dados da PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio em Senso Demográfico realizado em 2010 pelo IBGE Instituto Nacional de Geografia e Estatística.

ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, 1984, p.3.
KARDEC, O Livro dos Espíritos, pergunta 200, 201, 202, 205, LAKE, 2007, Tradução José Herculano Pires.


sábado, 10 de agosto de 2019

PENSANDO O RACISMO E A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


Pensando o Racismo e a Intolerância Religiosa
Texto do eixo de pesquisa Espiritismo Racismo e Intolerância Religiosa.
Produção de Aldo Alves, Felipe Aragão e Gustavo Filizzola.

Codificado por Kardec em meados do século XIX, o Espiritismo é trazido à Terra pelos Espíritos Superiores no momento em que há uma profunda valorização da Razão e do engenho humano como instrumentos de avanço, senão social, ao menos científico, portanto, para uma nova premissa, foi necessário uma nova terminologia, posto que “(...). em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo (...).” (Kardec, 1997, p. 13)
Em meio ao ambiente positivista reinante à época, tomam corpo debates sobre o magnetismo, sobre tecnologia e sobre a condição humana nas suas mais variadas matizes, tendo como foco a discussão, hoje felizmente desconstruída, de raça.
Percebamos que como um homem da sua época e de pensamento científico, Kardec irá utilizar-se de alguns termos em voga no período, dentre eles o termo  raça, que será utilizado na Codificação, todavia não de forma pejorativa, mas como a maneira encontrada para explicar as diferenças de evolução moral e técnico-social presentes no orbe terrestre.
            No Brasil em um mesmo período, a escravidão dos povos trazidos do continente africano dava seus últimos suspiros o que culminou com a abolição em 1888, três séculos depois, deixando marcas presentes em nossa sociedade como herança de um período de "desumanizou" o ser negro.
            Nossa sociedade ainda construída sob os alicerces das hierarquias raciais, relegou ao negro, agora ex-escravizados, a condição de marginais, sejam através dos seus corpos, sejam através de sua cultura ou manifestações religiosas.
            O conhecimento espírita, neste processo, nos esclarece que: “É contrária à Natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente.” (Kardec, 1988, p. 322). Embora tenha passado 131 anos da abolição, o racismo ainda permeia nossas relações, sejam invisibilizando, destacando, segregando ou ignorando indivíduos e populações segundo a situação ou conveniência. Nessa perspectiva, de posse do cabedal da Doutrina Espírita, devemos propor e efetivar mudanças dos paradigmas que sustentam nossas relações sociais tornando claro o que se passa em nossa sociedade, desenvolvendo sentimento de alteridade, respeito às diferenças e "desmontando" essa hierarquia que é nada senão uma construção cultural para espíritos que são imortais.
            Como toda nova ideia a Doutrina Espírita passa a sofrer perseguições dos setores mais conservadores da sociedade, notadamente dos meios científico e religioso, O Auto-de-Fé em Barcelona, ocorrido no dia 09 de outubro de 1861, onde trezentos volumes de diversos títulos espíritas foram apreendidos e queimados, no ato de intransigência é um exemplo disso.
            Ao longo da história tivemos vários exemplos de intolerância. Roma queimou os primeiros cristãos, numa tentativa de apagar a mensagem do Cristianismo. Na Idade Média, pessoas foram queimadas em praça pública por pensar de forma contrária à ideia dominante. Hoje túmulos, imagens de santos/as católicas, centros espíritas e terreiros são apedrejados.
Segundo a ONU, o mundo vive a maior crise, após a segunda Guerra Mundial,de refugiados, por motivos de guerra, perseguição política, étnica e religiosa. Um fato percorreu as páginas dos mais importantes jornais do mundo. A foto do menino sírio AylanKurdi, refugiado, de 3 anos, encontrado morto em uma praia turca de Ali HorcaBurnu. Esse garoto é a representação de tantas outras crianças que morreram e morrem na tentativa de encontrar uma vida melhor.
Este ano, No Rio de Janeiro, uma criança de 11 anos, negra, de candomblé, foi xingada por um grupo de religiosos que gritaram: “Sai satanás, queima! Você vai para o inferno!” E em seguida, arremessaram uma pedra que atingiu a cabeça da menina. A pedra pode ter deixado marcas em seu corpo, mas a intolerância deixou-lhe marcas mais profundas em sua alma.
Paradoxalmente, os mesmos religiosos que pregam a paz, o amor, a mensagem de Jesus, são os mesmos que perseguem e matam em nome de Deus! O Papa Francisco, um homem que promove a paz por onde passa, sempre está lembrando sobre a necessidade do diálogo entre as religiões e uma convivência pacífica.
A Doutrina Espírita nos explica que o Homem de Bem “é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos. Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele” (KARDEC, 2012, p. 307-308).
A religião é um caminho que nos leva a Deus. Cada um a escolhe como se sente bem. O espiritismo, doutrina de educação por excelência, nos ensina os meios para construir em nós o protótipo do homem de bem e o Reino de Deus na Terra, a respeitar às diversas religiões no mundo e aprender que o diálogo pode unir as diferenças. 

REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 40° ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1988.
_______________. O Livro dos Espíritos. 77° ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997.
________________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 130° ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012.

Decolonizar – Descolonizar – Contracolonizar – Ecologia decolonial

  Muito tem-se discutido sobre os temas acima, e gostaria de trazer o pensamento de alguns autores sobre eles. Nós que moramos no hemisfério...