sexta-feira, 5 de junho de 2020

Espiritismo, Racismo e Consciência Negra




Espiritismo, Racismo e Consciência Negra
Texto do eixo de pesquisa Espiritismo, Racismos e Intolerância Religiosa
Produção: Gustavo Filizola

Como membro do Grupo Ágora Espírita que tem como um de seus objetivos a preocupação com a valorização das necessidades das minorias sociais, bem como das realidades políticas e sociais de nosso país e do mundo trazendo essa discussão baseada nos princípios morais do Espiritismo e diante dos movimentos que estão acontecendo a favor da igualdade racial e contra o racismo, trago essas reflexões sobre: Por que é importante o dia da consciência negra?
Em breves explicações (temos consciência que as mesmas não dão conta das respostas necessárias à complexidade do tema), dizemos:
Porque a data foi escolhida justamente por ter sido o dia em que Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra ao regime escravocrata, foi assassinado, em 1695. Seu objetivo é fazer refletir sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e sobre a questão da igualdade racial.
Porque é um dia que deve ser multiplicado pelos 364 dias restantes do ano por marcar e abrir o debate sobre as políticas de ações afirmativas para o acesso da população negra, ao dizer o que um Estado democrático de direito deve oferecer a todo e qualquer cidadão: direito à educação em todos os níveis, à saúde, à justiça social, entre outros aspectos.
Porque é uma forma de reparação perante os escravizados que foram, forçosamente, trazidos para cá para servir de mão de obra barata e dizer que, o dia 13 de maio de 1888, é um engodo, por continuar mantendo, em regime de desigualdades social, econômica, cultural e religiosa de homens, mulheres e crianças negras.
Porque a meritocracia é um mito: não há como comparar que uma classe social alcance sucesso por mérito, frente à outra que sequer consegue acessar as mesmas oportunidades.
Em consonância às palavras de Kardec (1978) “Fora da caridade não há salvação”, agir, baseados nessa assertiva, é agir humanamente e de acordo com os princípios cristãos, ouvindo a voz das minorias e somando à força dos gritos dos que se sentem excluídos de uma sociedade estruturada no racismo.  Jesus, à sua época, foi o porta-voz dos menos favorecidos e dos que estavam à margem da sociedade (os mal alimentados, as prostitutas, os homens de vida simples: pescadores, artesãos, agricultores, pastores e as mulheres que tiveram papéis fundantes em sua missão, etc.), ao ponto de afirmar: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância”  (JOÃO, 10:10).
 Jesus se reconhece na imagem de cada um de seus seguidores, assim como foi reconhecedor de suas necessidades físicas, emocionais e espirituais, assim, ter vida em abundância não é apenas tratar de corpos dilacerados pelo tempo e pelas injustiças sociais, mas dar-lhes condições de vida dignas para seu processo de transformação moral.
Enfim, 20 de novembro é sim dia de comemorar o dia da consciência negra, quiçá, através dessa consciência, teremos menos mortes como a de George Floyd nos Estados Unidos, João Pedro Mattos no Rio de Janeiro e Miguel Otávio em Pernambuco. 


Referências: 


KARDEC, Allan.  Evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 134. ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1978.

MANIFESTO ÁGORA - 


11 comentários:

  1. Grato Gustavo, por seu registro da importância do dia da consciência negra. A nossa divida, quanto país, é impagável. Os negros, ditos libertos, foram renegados a uma condição sub humana. O estado, delimitou e condenou o negro aos piores lugares. Sem direito a Educação, saúde e, sem acesso a dignidade. Como ter oportunidade na disputa de um lugar decente, na sociedade? Foi através do governo do Excelentíssimo senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tendo como ministro da Educação, o Excelentíssimo Ministro, senhor Haddad que o negro, teve a condição, através das cotas, para disputar um acesso as universidades federais. Esta dívida, é impagável.

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  2. Excelente texto. Um pouco de história, espiritismo e sobretudo humanidade. Digamos na luta onde a igualdade será uma constante em nossas vidas.

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  3. A luta infelizmente continuará com toda certeza pois, o fasciismo volta e meia dá suas caras ! Mas há de chegar o dia em que não haverá mais a necessidade de luta,e aí então, todos poderemos viver em harmonia.

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  4. Excelente texto. Sonho com uma sociedade em que não seja preciso lembrar-nos ,que o negro,índio, homossexuais...são seres humanos dignos de respeito e amor. Até lá,a luta contra as abominações dos preconceitos,tem que ser constante, até que atinjamos a tão sonhada civilidade como Jesus deseja de nós.

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  5. Felipe Pedro Leite de Aragão6 de junho de 2020 às 11:26

    Texto de uma dimensão moral gigante e de profunda reflexão histórica. Importante para este transe por qual passamos no sentido de trazer aos holofotes temáticas subalternizadas e muitas vezes revisadas para serem negadas.

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  6. Gustavo, obrigada por nos lembrar de conteúdo tão relevante. Pois, esse é um tema q não poderia faltar nas aulas do DIJ, nem nas tribunas espíritas. Mas, no tom esclarecedor e de chamada à novas atitude, como vc o trouxe. Não podemos mais ficar apenas justificando como reflexo da lei de retorno as violências sofridas por atitudes racistas, eximindo assim o opressor, na sua ação da "promoção do escândalo". Essa data ainda é necessária p/raça humana aprender mais sobre diferenças e desigualdades. Ceça Lima

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  7. Que a lembrança de datas como estas não sejam jogadas ao esquecimento por conivência e intencionalidade dos que ainda gozam dos privilégios e que sempre estiveram do lado "bom" da história.

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  8. Parabéns, Gustavo! Ótimo texto

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  9. Texto muito esclarecedor, pois é dever dos espíritas, imbuídos pelo ideal renovador do Espiritismo, trabalhar por uma sociedade mais justa e igualitária, onde o negro e todos os grupos étnicos oprimidos, tenham os seus direitos garantidos e respeitados. O preconceito é uma ideologia de atitudes ofensivas por motivo de intolerância que fere a dignidade humana, que faz parte da construção da sociedade que ainda tem raízes escravagistas. O descaso histórico é tão normal, que quando foram adotadas medidas no Brasil, como as quotas raciais, somente nos anos dois mil, houve críticas até pelos negros. É lamentável.

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  10. A Educação é a chave para a construção de uma sociedade mais justa e igual, o Espiritismo tem seu papel nesta construção, este artigo nos lembra que, precisamos conhecer as realidades sociais para podermos nos posicionarmos sempre que necessário.
    Gratidão Gustavo Filizola, pelo artigo e sigamos em frente na construção de uma sociedade antiracista...

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  11. Gratidão, Gustavo, pelo excelente texto! Os conservadores se incomodam quando ressaltamos a necessidade de termos o dia da consciência negra, o dia do orgulho LGBTQIA+, e datas similares, porque não raro eles não vem o resultado da exploração histórica causada pelos sistemas de opressão. No Brasil, com a lei abolicionista, houve uma verdadeira tentativa genocida com a população negra, relegada à marginalização social como forma de ressentimento branco pela sua liberdade. Ainda temos que avançar muito enquanto nação, para que consigamos mensurar o que foi o período da escravização no Brasil, e o que ocorreu depois nos contextos antes e pós-abolição. Sigamos firmes nessa luta, pois não estamos sós, somos muitos!

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