quarta-feira, 6 de março de 2024

Um comentário espírita sobre o massacre israelense na Palestina

 


De forma genérica, sabemos que, para a Filosofia espírita, a guerra é fruto de uma predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual. Para nós, fica claro que a guerra é sempre considerada um mal. Não há conflito armado bom ou justo, ele, afinal, é fruto do insucesso do diálogo, da diplomacia. Quando duas pessoas, grupos, partidos ou países se lançam à luta armada, já foi perdida a possibilidade de resolução de questões de modo humano, educado, respeitoso. Isso será sempre lamentável.

Os imortais propõem ainda que, à medida que o ser humano progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. A guerra é uma coisa que vai acabar, que está relacionada à baixa capacidade humana de exercer empatia, de se colocar no lugar do outro, de tentar ver os diversos ângulos de um problema e as perspectivas dos outros.

No entanto, reconhecemos que, para o nível de opressão sistemática em que a Terra ainda se encontra, pode haver casos em que a guerra se torna a única escolha possível, como nos casos do colonialismo, por exemplo, em que guerra é feita por impulso de liberdade e o progresso. Há casos em que uma violência territorial tira a soberania de alguém, muitas vezes do forte contra o mais fraco. E são em condições análogas a essas que a Filosofia espírita ensina o que deve ser sempre defendido. Há momentos em que os direitos básicos à sua própria humanidade são negados a certo povo ou grupo étnico; há relatos de pessoas que ficam prisioneiras a céu aberto, com seu direito de ir e vir suspenso; conhecemos histórias de acordos internacionais que são desrespeitados em nome de interesses mesquinhos materiais ou em nome de uma pretensa superioridade religiosa.

E, infelizmente, essa triste lista faz parte da ação histórica do estado de Israel sobre a Palestina, que vê, assustada, a própria convenção da ONU desrespeitada. Em 1948, o estado de Israel foi criado por essa entidade e a Palestina dividida. Desde então, a área destinada ao povo árabe já era bem menor, apesar de ser uma população numerosa. De lá para cá, o mais forte sempre se impôs e foi, progressivamente, diminuindo as terras que eram por direito das famílias palestinas, que passaram a viver em assentamentos, quase sempre sob tensão constante de guerra.

Enquanto a pergunta for quem começou primeiro, realmente a guerra árabe israelense não vai acabar. Mas também não dá para esperarmos que um povo se veja contra a parede, sem direitos humanos e não reaja, em nome da liberdade e do progresso, como disseram os espíritos a Kardec.

Ao tomarmos um lado e defendermos os direitos do povo palestino que vê suas crianças mortas ou jogadas na orfandade, não estamos justificando as ações terroristas do Hamas, inaceitáveis também, mas não é mais possível chamar o que vem acontecendo em Gaza nos últimos dias de guerra. É um massacre. Alguém ainda pode perguntar: mas são respostas de Israel aos terroristas, que devem se render. Mas e os civis mortos na Cisjordânia, onde nem tem Hamas? Em nome do seu direito, Israel se lança à suspensão do direito mais básico do cidadão palestino, que é o de viver.

Apoiado pelos EUA – que mais uma vez votou contra o cessar fogo no conselho de segurança da ONU  –, o estado de Israel comete crimes de guerra e pratica um genocídio, legitimado por Washington, que defende claramente seus interesses armamentistas. Mais uma vez, o capital supera o ser humano, e a morte se estabelece com via possível. Não era para ser assim!

Como espírita, sinto-me no dever de me somar à defesa palestina. Quem no nosso meio, pelo rumo que as coisas tomaram, se coloca ainda ao lado dos empreendimentos israelenses, ficou cego por sua ideologia de extrema direita e pelos meios de comunicação enviesados que consultam. Contudo, pode ser coisa pior: eles sejam mesmo etnocidas.

Palestina livre!

 

 

12 comentários:

  1. Excelente reflexão. Baseada no princípio espírita, de justiça, amor e caridade e tomar a defesa do fraco contra o forte...e cruel.

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  2. Pelo fim do genocídio em gaza

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  3. Boa análise de questões históricas e político-econômicas que estão nos bastidores deste episódio de violência inominável contra um povo acuado e necessitado de apoio internacional. De fato, o compromisso do espírita lúcido e esclarecido é com a defesa da vida acima de quaisquer interesses subalternos!

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  4. LUIZ FERNANDO LOPES - Boa análise de questões históricas e político-econômicas que estão nos bastidores deste episódio de violência inominável contra um povo acuado e necessitado de apoio internacional. De fato, o compromisso do espírita lúcido e esclarecido é com a defesa da vida acima de quaisquer interesses subalternos!

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  5. Muito lúcido e coerente. Nos últimos tempos temos assistido, com espanto, uma inversão dos valores democráticos e cristãos. Concordar com este genocídio é simplesmente cruel e desumano.
    E nós, espíritas, precisamos nos posicionar a favor da paz, do respeito aos direitos humanos e a favor de uma sociedade mais justa e respeitosa.

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  6. Ponderado e oportuno artigo. Parabéns ao autor pela capacidade de síntese em tão delicado tema. (Ass. André Luiz Honorato)

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  7. Os palestinos não reconhecem a ação do Hamas como "terrorismo". Segundo sua narrativa foi uma ação militar planejada para sequestrar reféns militares tendo em vista sua permuta pelos mais de 1.500 palestinos que foram sequestrados pelas forças militares de Israel e que se acham detidos há alguns anos sem que seja possível conseguir sua libertação pelas vias da negociação. Como toda ação militar, houve danos a civis, o que não valida a enxurrada de distorções de informações divulgadas pela guerra informacional israelense. Acho importante levar em conta também o que dizem os palestinos, cuja reação é sempre qualificada de "terrorismo".

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  8. Pensamento de um ser que não se deixou envolver pela mídia hegemônica, na sua totalidade. Essa mídia, desde 07 de outubro, repete até a exaustão “ o ataque terrorista do Hamas” aliás, o termo terrorismo é amplamente utilizado pelo governo estadunidense , para rotular grupos que não concordam com a sua política, Grupos de Resistência. O Hamas, bem como outros Grupos de Resistência, decidiram reagir a opressão de Israel, que data de mais de 70 anos, a começar pelo assentamento de colonos israelenses. A opressão se expandiu , com o controle de Israel sobre a energia elétrica, comununicacao, alimentos e até mesmo a água dos palestinos.# O HAMAS TEM O DIREITO DE DEFESA.
    Israel, cujo objetivo é uma limpeza étnica, não quer finalizar essa guerra. É preciso que a Comunidade Internacional imponha sanções comerciais e esse Estado NON GRATO seja diplomaticamente isolado.
    #fromtherivertotheseapalestinewillbefree.

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  9. "... pode haver casos em que a guerra se torna a única escolha possível, como nos casos do colonialismo, por exemplo, em que guerra é feita por impulso de liberdade e o progresso."
    Acho que não entendi muito bem, se o colega tiver paciência, poderia explicitar melhor sua colocação? Assim como está, parece que está legitimando as guerras coloniais...

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    1. Obrigado pelo apontamento, Flávio. Deu margem para esse entendimento, né?! O que eu quis dizer é que para combater opressões como a colonialista, em certas quadras da história, a luta foi a única saida.

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  10. Muito bem explicadinho. Parabéns pelas reflexões lúcidas.

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  11. Muito bom, principalmente por marcar o posicionamento. Jorge Luiz

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