“... a
semente...”
Podia a terra encher, germinar e crescer;
Previmos uma luta, e aguardamos pra ver...”
O Vento – Fábula Espírita - Revista Espírita
1862
Passado
vinte anos do início do século XXI e onde a informação a partir das tecnologias
são rápidas, em poucos minutos um ser humano pode se conectar com outro em qualquer
parte do planeta. Mesmo assim as questões ambientais ainda são entendidas como
as ações diárias que contribuem para uma postura socialmente correta, nos
discursos de muitos processos educativos. Ficando entre a dicotomia das
atitudes que destroem o ambiente natural e têm que deixar de serem feitas e as ações
que reconstroem o que foi destruído e que precisam fazer cada vez mais parte de
nosso dia a dia.
A
construção dos fundamentos que arquitetam os mecanismos didáticos para um novo
pensar, a relação do homem e seu meio são os alvos de pesquisa do Eixo
Espiritismo e Meio Ambiente do coletivo Ágora.
A busca
aqui é voltar à semente do mundo corpóreo do qual fizemos parte e que germinou,
sair do errôneo olhar contemplativo como se a natureza estivesse fora de nós;
somos parte da natureza, isso já sabemos. O que precisamos entender que ao
germinar e crescer continuamos dentro dessa natureza e essa é a nossa
investigação. “Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão” nos
alerta Edgar Morim e orienta ainda na mesma obra: “O desenvolvimento do
conhecimento científico é poderoso meio de detecção dos erros e de luta contra
as ilusões”. Talvez o conhecimento institucional que norteia a aprendizagem em
todos os ambientes tenha criado o problema do reducionismo das questões humanas
naturais. Separando ser humano da natureza, cortando ilusoriamente suas raízes.
“A
responsabilidade humana decorre das exigências consciências e está sempre na
razão direta do grau de desenvolvimento consciencial das criaturas. Por outro
lado, esse desenvolvimento depende das condições de liberdade e do grau de
opção de que as criaturas dispõem. Justamente por isso o problema, que parece
simples à primeira vista, torna-se bastante complexo quando o examinamos.” Herculano Pires, pág.68
Quando buscamos a relação do ser e a natureza
à luz da doutrina espírita, percebemos essa analogia intrínseca entre o espírito
(ser) e o mundo por ele habitado, já na introdução do Livro dos Espíritos (L.E)
o Sr. Allan Kardec deixa explicito “O homem tem, assim, duas naturezas: por seu
corpo, ele participa da natureza dos animais, de quem possui o instinto; por
sua alma, participa da natureza dos Espíritos.”
Em outro momento quando se refere ao perispírito (invólucro) que une o
espírito ao corpo no período da reencarnação, ele faz a seguinte pergunta: ” De
onde o Espírito extrai esse envoltório semimaterial?” Os espíritos respondem “Do
fluido universal de cada globo”. Falar do espírito e sua relação com o globo é
falar de humanidade.
Ailton Krenak logo no início de seu livro A
Vida Não é Útil, pág9 afirma:
“Quando falo de humanidade não estou falando só de Homo sapiens, me refiro a uma
imensidão de seres que nós excluímos de sempre: caçamos baleias, tiramos
barbatanas de tubarão, matamos leões e o penduramos na parede para mostrar que
somos mais bravos que ele. Além da matança de todos os outros humanos ...”
Na questão 843 do LE Kardec pergunta:
“Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?” Os espíritos respondem, “Pois, que
tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o
homem seria máquina.” Da humanidade universal onde Homo sapiens e todo globo
estão intrinsicamente ligados até o livre arbítrio, nossos movimentos
interferem no nosso progresso natural, social, espiritual e psíquico.
Estamos
passando por uma crise mundial de saúde, humanitária e de paradigmas. Precisamos
repensar nossa ação de cidadão do mundo. Os povos originários, os espíritos
abnegados , os pensadores comprometidos com as questões do globo nos apontam caminhos,
basta apenas que tenhamos olhos com vontade ver.
Pensar
e olhar a humanidade terrestre a partir de uma ideia fundada no humano intrínseco
nos outros seres, organismos vivos unidos e compartilhando a mesma atmosfera, nos
colocar em uma pequena partícula do todo, compreender que foi a desarmonia com
as nossas ramificações da gleba que nos tornou tão inferiores que hoje passamos
por uma pandemia que nos tira a condição de respirar, será o começo .
Em
outro livro, fundamental para nossas reflexões, Ideias para adiar o fim do
mundo, Krenak nos convoca a pensar que
“... Tal ideia de humanidade, ao mesmo tempo que se apoia sobre
uma distinção literalmente fundamental entre os humanos e demais existentes
terrestres, remete para uma sub-humanidade aqueles povos que sempre recusam tal
distinção, relegando-os para as margens...”
Podemos
completar esse pensamento com a presença do egoísmo nas relações. Na questão
915 do L.E: “Por ser inerente à espécie humana, o egoísmo não constituirá
sempre um obstáculo ao reinado do bem absoluto na Terra?” A resposta “É exato
que no egoísmo tendes o vosso maior mal, porém ele se prende à inferioridade
dos Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade mesma...” o caminho será
sempre combater o egoísmo. Essa é a marcha do progresso.
As novas propostas de uma parte do movimento
espírita caminham para devolver ao espiritismo seu caráter progressista,
discutindo as questões dos homens vivos e pungentes no caminhar da evolução,
para isso precisa estar atento, compreender e dialogar com outras filosofias e
ciências, sair da couraça evangelista que aprisionou por anos o pensamento
crítico.
No
L.E a pergunta 702: “O instinto de conservação é uma lei da Natureza?” A resposta é inequívoca “Sem dúvida. Todos os
seres vivos o possuem, qualquer que seja o seu grau de inteligência; nuns é
puramente mecânico e noutros é racional.”
Na 703, “Com que fim Deus concedeu a todos os seres vivos o instinto de
conservação? A resposta — “Porque todos
devem colaborar nos desígnios da Providência...” Compreender o que precisamos
de uma ação de preservação, cuidar do grande organismo vivo que chamamos de
Terra ou Lemolahgo, para os povos Xucurus, passa pelo entendimento de que não
conseguiremos sozinhos; não será isolado em nossos grupos religiosos, que
mudaremos essa realidade.
Presente no cotidiano da sociedade,
contudo, ainda distante dos interesses do movimento espírita em sua maioria, a
educação ambiental, é essencial em todos os espaços de processos educativos.
Com
o mundo cada vez mais globalizado e a sociedade em níveis altos de violações
dos recursos naturais, sociais e humanos, mudar opiniões irrealizadas na
cultura do movimento espírita onde a evangelização e não a educação dos seguidores do espiritismo
na versão brasileira, conduziu por anos as interpretações das essências
kardecista, baseada em uma salvação viciosa da caridade que pouco contribuiu
para o real progresso do cosmo, vendendo um mundo superior para uma minoria ou
como dizem para os escolhidos. As Expressões: “não cai uma folha sem que Deus
permita” ou “estamos aqui de passagem”, construíram em muitos o distanciamento
do cosmo, do lugar de onde retirou o fluido cósmico universal para se
constituir tudo e todos.
Encontrar
a profundidade do que quer dizer progresso e estimular ações progressistas, talvez
seja o maior desafio do Eixo Espiritismo e Meio ambiente. O despertar de uma
consciência cósmica, a partir de um movimento que trata das questões dos
espíritos e sua relação com o mundo material enquanto seres vivos.
Referências Bibliográficas
Revista espírita
https://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1862
Livros de Ailton Krenak
A vida não é útil
Ideias para adiar o fim do mundo
Editora Companhia das Letras
Edgar Morin
Os sete saberes necessários à educação do futuro.
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.
O Livro dos espíritos
https://espirito.org.br/wp-content/uploads/2017/05/Livro-dos-Espiritos
Curso_Dinamico_de_Espiritismo__O_Grande_desconhecido_1979.
Um tema necessário e urgente para dialogarmos. Parabéns ao Ágora e Maria Helena Paz, pelo belo artigo!!
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirExcelente texto!! ����������������
ResponderExcluirObrigada
ExcluirExcelente artigo
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirExcelente Artigo Maria Paz 👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigada
ExcluirParabéns ao Ágora e a Helena! Diz o texto: "(...)sair do errôneo olhar contemplativo como se a natureza estivesse fora de nós; somos parte da natureza, isso já sabemos." Com tantos desmandos, tanta agressão à natureza, será que sabemos mesmo?
ResponderExcluirDesejo que sim Walkiria.
ExcluirNós temos subsídios condições suficientes para entender que os "negócios dos homens" são negócios da NATUREZA em que estamos inseridos, e da qual fazemos parte. Portanto, a Economia deveria ser estudada a par da Ecologia. Simples assim. As ciências nos mostram isso. Mas, espíritas que somos, conscientes que deveríamos ser..! ainda nos deixamos levar pelos enganos dos gananciosos. Mais uma omissão de nossa parte na contribuição com a
ResponderExcluirtransformação da sociedade.
Compreender que não somos seres a parte nesse globo já faz uma grande diferença. Precisamos está atentos às nossas ações e paulatinamente ampliarmos nossa visão do quanto tudo que aqui está são um pouco de nós e nós, um pouco de tudo .
ResponderExcluirGrato pelo texto
O momento que atravessamos requer artigos como este, que nos leve a reflexão sobre a nossa atuação no mundo, e não apenas, que nos veja como passageiros observadores do caos no planeta. Somos sujeitos atuantes e devemos ser protagonistas no processo de cuidarmos do lugar onde vivemos, nos inserindo parte deste espaço. Gratidão Maria Helena Paz, pela colaboração na construção deste Ideal de protagonismos, interação e responsabilidade entre nós e o planeta Terra.
ResponderExcluirObrigada.
ResponderExcluirQue reflexões necessárias ao momento que vivemos de total desrespeito ao meio ambiente e a vida. O homem na sua ganância, explora e destrói a natureza sem se perceber dependente e oriundo da mesma. E você ao usar a literatura espírita nos explica essa relação tão bem. Parabéns! Maria Helena Paz pela produção. Gratidão pela aprendizagem.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente e assertivo texto, Helena! Reflexões necessárias e urgentes para esses tempos de degradação ambiental e também para o movimento espírita, acostumado a achar que todas as calamidades tem uma missão divina a cumprir, esquecendo da ação destruidora do próprio ser humano em relação ao meio ambiente. Gratidão por essas reflexões!
ResponderExcluirTexto excelente. Promove uma reflexão necessária sobre o nosso papel no mundo e como integrante de um movimento racional que oferece subsídios para a educação integral. Há uma enorme preocupação do movimento espírita hegemônico com o apenas "evangelizar", mais próximo do catequizar no sentido de convencer, do que de educar o ser imortal. Imperioso mudar essa visão. Somos natureza.
ResponderExcluirMaria Helena, seu texto me soou como ¨um puxão de orelhas¨; com 20 anos dedicados à Educação Espírita, tanto na Coordenação de um dos turnos da Evangelização da Instituição que frequentava, como em sala de aula, nunca tinha atinado para essa ¨falha¨do Espiritismo. Depois de ler sua publicação, tive o cuidado de analisar o Currículo da FEB, que norteia as aulas de Evangelização Infantil e percebi que muito pouco tem sido feito nas salinhas de Evangelização no que se refere a despertar nos nossos pequenos, o respeito e o cuidado com a Mãe Natureza. Nossa gratidão ao Ágora Espírita pela iniciativa de criar o Eixo Espiritismo e Meio Ambiente e a todos que se dispõem a discutir o tema, nos chamando para a responsabilidade, que é de todos nós, de "salvar" nosso Planeta.
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