sábado, 10 de agosto de 2019

PENSANDO O RACISMO E A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


Pensando o Racismo e a Intolerância Religiosa
Texto do eixo de pesquisa Espiritismo Racismo e Intolerância Religiosa.
Produção de Aldo Alves, Felipe Aragão e Gustavo Filizzola.

Codificado por Kardec em meados do século XIX, o Espiritismo é trazido à Terra pelos Espíritos Superiores no momento em que há uma profunda valorização da Razão e do engenho humano como instrumentos de avanço, senão social, ao menos científico, portanto, para uma nova premissa, foi necessário uma nova terminologia, posto que “(...). em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo (...).” (Kardec, 1997, p. 13)
Em meio ao ambiente positivista reinante à época, tomam corpo debates sobre o magnetismo, sobre tecnologia e sobre a condição humana nas suas mais variadas matizes, tendo como foco a discussão, hoje felizmente desconstruída, de raça.
Percebamos que como um homem da sua época e de pensamento científico, Kardec irá utilizar-se de alguns termos em voga no período, dentre eles o termo  raça, que será utilizado na Codificação, todavia não de forma pejorativa, mas como a maneira encontrada para explicar as diferenças de evolução moral e técnico-social presentes no orbe terrestre.
            No Brasil em um mesmo período, a escravidão dos povos trazidos do continente africano dava seus últimos suspiros o que culminou com a abolição em 1888, três séculos depois, deixando marcas presentes em nossa sociedade como herança de um período de "desumanizou" o ser negro.
            Nossa sociedade ainda construída sob os alicerces das hierarquias raciais, relegou ao negro, agora ex-escravizados, a condição de marginais, sejam através dos seus corpos, sejam através de sua cultura ou manifestações religiosas.
            O conhecimento espírita, neste processo, nos esclarece que: “É contrária à Natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente.” (Kardec, 1988, p. 322). Embora tenha passado 131 anos da abolição, o racismo ainda permeia nossas relações, sejam invisibilizando, destacando, segregando ou ignorando indivíduos e populações segundo a situação ou conveniência. Nessa perspectiva, de posse do cabedal da Doutrina Espírita, devemos propor e efetivar mudanças dos paradigmas que sustentam nossas relações sociais tornando claro o que se passa em nossa sociedade, desenvolvendo sentimento de alteridade, respeito às diferenças e "desmontando" essa hierarquia que é nada senão uma construção cultural para espíritos que são imortais.
            Como toda nova ideia a Doutrina Espírita passa a sofrer perseguições dos setores mais conservadores da sociedade, notadamente dos meios científico e religioso, O Auto-de-Fé em Barcelona, ocorrido no dia 09 de outubro de 1861, onde trezentos volumes de diversos títulos espíritas foram apreendidos e queimados, no ato de intransigência é um exemplo disso.
            Ao longo da história tivemos vários exemplos de intolerância. Roma queimou os primeiros cristãos, numa tentativa de apagar a mensagem do Cristianismo. Na Idade Média, pessoas foram queimadas em praça pública por pensar de forma contrária à ideia dominante. Hoje túmulos, imagens de santos/as católicas, centros espíritas e terreiros são apedrejados.
Segundo a ONU, o mundo vive a maior crise, após a segunda Guerra Mundial,de refugiados, por motivos de guerra, perseguição política, étnica e religiosa. Um fato percorreu as páginas dos mais importantes jornais do mundo. A foto do menino sírio AylanKurdi, refugiado, de 3 anos, encontrado morto em uma praia turca de Ali HorcaBurnu. Esse garoto é a representação de tantas outras crianças que morreram e morrem na tentativa de encontrar uma vida melhor.
Este ano, No Rio de Janeiro, uma criança de 11 anos, negra, de candomblé, foi xingada por um grupo de religiosos que gritaram: “Sai satanás, queima! Você vai para o inferno!” E em seguida, arremessaram uma pedra que atingiu a cabeça da menina. A pedra pode ter deixado marcas em seu corpo, mas a intolerância deixou-lhe marcas mais profundas em sua alma.
Paradoxalmente, os mesmos religiosos que pregam a paz, o amor, a mensagem de Jesus, são os mesmos que perseguem e matam em nome de Deus! O Papa Francisco, um homem que promove a paz por onde passa, sempre está lembrando sobre a necessidade do diálogo entre as religiões e uma convivência pacífica.
A Doutrina Espírita nos explica que o Homem de Bem “é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos. Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele” (KARDEC, 2012, p. 307-308).
A religião é um caminho que nos leva a Deus. Cada um a escolhe como se sente bem. O espiritismo, doutrina de educação por excelência, nos ensina os meios para construir em nós o protótipo do homem de bem e o Reino de Deus na Terra, a respeitar às diversas religiões no mundo e aprender que o diálogo pode unir as diferenças. 

REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 40° ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1988.
_______________. O Livro dos Espíritos. 77° ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997.
________________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 130° ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012.

4 comentários:

  1. Excelente reflexão. Sigamos na construção de um Movimento Espírita que lute pela justiça social como direito humano.

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  2. Sem dúvida um momento de reflexão importante diante dos desafios atuais. O Movimento Espírita precisa trazer esses assuntos para, com base na Doutrina, entendermos a dinâmica da nossa sociedade.

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  3. Muito bom texto.Confesso que vim ler com uma certa apreensão,que se desfez,ao ver Kardec contemplado com louvor e em consonância com outras opiniões.Parabéns aos responsáveis.

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  4. Parabéns pelo texto, educativo e reflexivo, para mim o ponto alto foi a citação a conduta do Papa Francisco, no que se refere ao respeito e o diálogo entre todas as religiões... mesmo a doutrina espírita não sendo uma religião, ela se incluiu!

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