Pensando o Racismo e a Intolerância
Religiosa
Texto do eixo de pesquisa Espiritismo Racismo e Intolerância Religiosa.
Produção de Aldo Alves, Felipe Aragão e Gustavo Filizzola.
Codificado
por Kardec em meados do século
XIX, o Espiritismo é trazido à Terra pelos Espíritos Superiores no
momento em que há uma profunda valorização da Razão e do engenho humano como
instrumentos de avanço, senão social, ao menos científico, portanto, para uma
nova premissa, foi necessário uma nova terminologia, posto que “(...). em vez
das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos para indicar a crença a que
vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo (...).” (Kardec, 1997,
p. 13)
Em
meio ao ambiente positivista reinante à época, tomam corpo debates sobre o
magnetismo, sobre tecnologia e sobre a condição humana nas suas mais variadas
matizes, tendo como foco a discussão, hoje felizmente desconstruída, de raça.
Percebamos
que como um homem da sua época e de pensamento científico, Kardec irá
utilizar-se de alguns termos em voga no período, dentre eles o termo raça, que será utilizado na Codificação,
todavia não de forma pejorativa, mas como a maneira encontrada para explicar as
diferenças de evolução moral e técnico-social presentes no orbe terrestre.
No
Brasil em um mesmo período, a escravidão dos povos trazidos do continente
africano dava seus últimos suspiros o que culminou com a abolição em 1888, três
séculos depois, deixando marcas presentes em nossa sociedade como herança de um
período de "desumanizou" o ser negro.
Nossa sociedade ainda construída sob
os alicerces das hierarquias raciais, relegou ao negro, agora ex-escravizados,
a condição de marginais, sejam através dos seus corpos, sejam através de sua
cultura ou manifestações religiosas.
O conhecimento espírita, neste
processo, nos esclarece que: “É contrária à
Natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao
irracional e o degrada física e moralmente.” (Kardec, 1988, p. 322). Embora
tenha passado 131 anos da abolição, o racismo ainda permeia nossas relações,
sejam invisibilizando, destacando, segregando ou ignorando indivíduos e
populações segundo a situação ou conveniência. Nessa perspectiva, de posse do
cabedal da Doutrina Espírita, devemos propor e efetivar mudanças dos paradigmas
que sustentam nossas relações sociais tornando claro o que se passa em nossa
sociedade, desenvolvendo sentimento de alteridade, respeito às diferenças e
"desmontando" essa hierarquia que é nada senão uma construção
cultural para espíritos que são imortais.
Como toda nova ideia a Doutrina
Espírita passa a sofrer perseguições dos setores mais conservadores da
sociedade, notadamente dos meios científico e religioso, O Auto-de-Fé em
Barcelona, ocorrido no dia 09 de outubro de 1861, onde trezentos volumes de
diversos títulos espíritas foram apreendidos e queimados, no ato de
intransigência é um exemplo disso.
Ao longo da história tivemos vários
exemplos de intolerância. Roma queimou os primeiros cristãos, numa tentativa de
apagar a mensagem do Cristianismo. Na Idade Média, pessoas foram queimadas em
praça pública por pensar de forma contrária à ideia dominante. Hoje túmulos,
imagens de santos/as católicas, centros espíritas e terreiros são apedrejados.
Segundo
a ONU, o mundo vive a maior crise, após a segunda Guerra Mundial,de refugiados,
por motivos de guerra, perseguição política, étnica e religiosa. Um fato
percorreu as páginas dos mais importantes jornais do mundo. A foto do menino
sírio AylanKurdi, refugiado, de 3 anos, encontrado morto em uma praia turca de
Ali HorcaBurnu. Esse garoto é a representação de tantas outras crianças que
morreram e morrem na tentativa de encontrar uma vida melhor.
Este
ano, No Rio de Janeiro, uma criança de 11 anos, negra, de candomblé, foi
xingada por um grupo de religiosos que gritaram: “Sai satanás, queima! Você vai
para o inferno!” E em seguida, arremessaram uma pedra que atingiu a cabeça da
menina. A pedra pode ter deixado marcas em seu corpo, mas a intolerância
deixou-lhe marcas mais profundas em sua alma.
Paradoxalmente,
os mesmos religiosos que pregam a paz, o amor, a mensagem de Jesus, são os
mesmos que perseguem e matam em nome de Deus! O Papa Francisco, um homem que
promove a paz por onde passa, sempre está lembrando sobre a necessidade do
diálogo entre as religiões e uma convivência pacífica.
A
Doutrina Espírita nos explica que o Homem de Bem “é bom, humano e benevolente
para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os
homens como irmãos. Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não
lança o anátema aos que não pensam como ele” (KARDEC, 2012, p. 307-308).
A
religião é um caminho que nos leva a Deus. Cada um a escolhe como se sente bem.
O espiritismo, doutrina de educação por excelência, nos ensina os meios para
construir em nós o protótipo do homem de bem e o Reino de Deus na Terra, a
respeitar às diversas religiões no mundo e aprender que o diálogo pode unir as
diferenças.
REFERÊNCIAS
KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. 40°
ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1988.
_______________.
O Livro dos Espíritos. 77° ed. Rio
de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997.
________________.
O Evangelho Segundo o Espiritismo.
130° ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012.
Excelente reflexão. Sigamos na construção de um Movimento Espírita que lute pela justiça social como direito humano.
ResponderExcluirSem dúvida um momento de reflexão importante diante dos desafios atuais. O Movimento Espírita precisa trazer esses assuntos para, com base na Doutrina, entendermos a dinâmica da nossa sociedade.
ResponderExcluirMuito bom texto.Confesso que vim ler com uma certa apreensão,que se desfez,ao ver Kardec contemplado com louvor e em consonância com outras opiniões.Parabéns aos responsáveis.
ResponderExcluirParabéns pelo texto, educativo e reflexivo, para mim o ponto alto foi a citação a conduta do Papa Francisco, no que se refere ao respeito e o diálogo entre todas as religiões... mesmo a doutrina espírita não sendo uma religião, ela se incluiu!
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